sexta-feira, 4 de março de 2011

Jornalista da NT se torna vegetariano após assitir " Terráqueos "


Ao contrário do que sugere o título deste texto, esse não é um relatório extraterrestre após uma visita surpresa ao planeta Terra. (Na verdade, esse tipo de ET, todo verdinho, numa nave em formato de “caixa de pizza”, não existe. Existe sim vida em outros lugares do Universo. Nisso eu acredito. Mas não que os seres que habitam esses planetas tenham que ser a cara do bichinho que diz “ET, telefone, minha casa”.) Enfim, após um devaneio que deve ter custado uns 10 segundos da sua atenção, eu explico o que eu quero com esse texto. É simples: falar sobre o filme que mais me impressionou nos últimos anos: Terráqueos.
Já adianto: o filme é brutal. Tem cenas fortíssimas como uma vaca estrebuchando e mugindo loucamente sobre o seu próprio sangue após um sacrifício ritual que garante que ela pode ser comida por judeus ortodoxos, o chamado alimento kosher. Ou ainda, uma raposa que tem sua pele arrancada com a mesma facilidade que um lençol sujo é tirado da cama para a produção de um casaco estando ainda viva.
Mas a brutalidade faz sentido. Não porque ela precisa acontecer. Ao contrário: os produtores mostram que a morte de animais para que sua carne possa virar alimento ou sua pele possa ser vestida por um humano é algo só acontece porque existe gente, ou melhor, muita gente pra consumir. Se não existisse demanda, não haveria a necessidade dessas mortes.
É claro que escolheram as cenas mais brutais e sanguinárias. Eles querem impactar. E você pode até questionar: mas nem toda vaca morre assim. (A frase pode ter a variável galinha, peixe, além de outros animais.) Eu respondo: pode até ser. Mas com dor extrema ou pouca dor, o fim é sempre o mesmo: morte. Morte pra comer e vestir. Pode ser até que você não associe um cheiroso strogonoff de frango com uma galinha morta ou um cheiroso churrasco com um boi estrebuchando. Na verdade, a maior parte das pessoas age assim. Eu sempre agi assim. É a prática do velho ditado: “O que o olho não vê, o coração não sente.”
Aí você pensa: “Tá! Beleza! Então, o mundo agora vai ter que ser vegetariano?” Minha resposta simples: eu tenho certeza que os produtores do filme não tem a pretensão de transformar o mundo com essas imagens e esse argumento. Mas o simples fato de despertar a consciência de alguns é algo que já vale a pena.
Porquê Terráqueos me ajudou a virar vegetariano
Eu sou adventista do 7º dia desde que eu nasci. Entre os conselhos que eu sempre ouvi na igreja está o de que uma dieta sem carne animal é mais saudável: você vive mais e melhor. É um ótimo argumento. E eu sempre pensei: “Eu deveria virar vegetariano. A gente vive mais, melhor, evita doenças. Enfim, as vantagens são enormes!” A vontade era boa, mas nunca foi páreo para o cheiro de um churrasquinho ou um strogonoff de frango. (Tô insistindo no strogonoff porque sempre fui fã.) Até assistir Terráqueos.
É como disse o João Pinto, jogador do Benfica: “O meu clube estava à beira do precipício, mas tomou a decisão correta: deu um passo à frente.” Como também já disse, eu tinha vontade de ser vegetariano, mas faltava o argumento decisivo pra eu escolher essa opção. Ao assistir Terráqueos, eu refletia: “Cara, pra eu comer carne ou usar uma jaqueta de couro é preciso provocar morte.” Parece óbvio, mas eu nunca tinha me dado conta de forma tão real. E não interessa se é brutal ou não. É morte.
Sabe, eu já assisti outro documentário nessa linha: A Carne é Fraca. Mas esse filme parece desenho de criança perto de Terráqueos. Talvez tenha sido o argumento, quem sabe as imagens, ou ainda a minha forma de ver as coisas, que já não é a mesma que há 6 anos, quando assisti A Carne É Fraca. Fato é que dessa vez eu percebi que patrocinar a morte pra eu me alimentar ou vestir não faz sentido.
Para os produtores do filme o argumento era o de não provocar dor e sofrimento em outros seres vivos. Mas eu vou além. Além porque, do meu ponto de vista, como cristão adventista, há um argumento a mais. Quando se tem em mente o objetivo de um dia viver em uma Nova Terra, um lugar melhor, onde não vai mais haver morte nem dor, matar, por aqui, nessa Terra, não faz sentido também. Se no Céu eu não vou mentir, cobiçar e odiar, não faz sentido eu matar. E não tô falando de seres humanos. Tô falando de animais. Ou alguém já se imaginou quebrando o pescoço de uma galinha do lado da Árvore da Vida?
Sei lá, pode parecer que eu tô sendo muito radical, e não quero passar essa impressão. Porque eu conheço muito vegetariano que é tão chato quanto carnívoros ferrenhos, quando o assunto é desdenhar a opção dietética do outro. Pra mim, a reflexão foi simples, natural, mas só depois de imagens brutas. Eu não sei como pode ser pra você. Só sei que eu decidi por não comer mais carne, nem comprar roupas de couro de vaca. (De Jacaré ou de pele de Texugo eu nunca fui chegado.) Enfim, hoje já não me sinto mais à vontade com isso.
Se você quiser ampliar um pouco mais a sua visão de mundo, recomendo assistir Terráqueos. Dica de quem, há uma semana, fez um churrascão com lingüiça de frango e picanha na varanda de casa.
André Leite, jornalista da TV Novo Tempo
Observação
Em um determinado momento do filme, os produtores falam sobre evolução das espécies. Nada que prejudique a validade do principal argumento do filme, mas é preciso estar atento a toda a argumentação pra não se deixar levar por pontos de vista contrários à Bíblia.
Endereço oficial pra baixar o filme com legenda em português
(Os produtores não consideram isso ilegal, já que o objetivo deles é disseminar esse estilo de vida)

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