sexta-feira, 6 de maio de 2011

Suprema Diva


“Se somente Deus é TUDO, então minha mãe é o MÁXIMO”
Ela já sabia o que eu nunca saberia – que um dia iria nascer. Desde lá virei refém da completa incapacidade de ser grato como deveria. Suas dores embalaram meu sorriso, e suas lágrimas fortaleceram meu caráter. Nunca fiz por merecer, e ela jamais fez pra se engrandecer – pois quem é grande expressa no serviço sua verdadeira grandeza. De repente, vejo em meu umbigo o lembrete inapagável de que fomos ligados pra sempre. E sinto na consciência o grito do dever – ainda não cumprido – de homenagear aquela que ultrapassa qualquer palavra existente no mundo dos mortais.
Ser mãe. Isto é unção divina compartilhando uma fração do poder Criador com o ventre de uma criatura. É revesti-la de força protetora superando limites inimagináveis. Elas superam o absurdo e resistem ao insuportável. Suas contrações são prelúdios de outra vida recebendo um amor capaz de sacrificá-la pra viver. Por tudo isso, a maternidade é um portal projetando suas escolhidas às dimensões impensáveis – é um oráculo sagrado cuja reverência de um beijo grato vale mais que qualquer bajulação.
Sempre amei a minha mãe. Mas foi agora, virando pai, que me surpreendi pra valer com meu papel de filho. Recebemos tudo pra deixá-las, muitas vezes, sem nada. Arrancamos seu sono, lambuzamos suas mãos, e das fraldas trocadas às canções de ninar crescemos sem dar conta do quanto pesamos sobre aquele colo de aço. Se não fossem estas heroínas aquietando nossos pesadelos, esmoreceríamos perante inimigos infalíveis como: o medo da solidão, a inaptidão pra alimentação e a assombração dos Bichos Papões. Ah, se não fossem elas, nunca seriam eles – muito menos eu.
Por isso, descolaram estas estrelas lá do Céu trazendo-as à Terra pra nortear a humanidade. São elas: as super-mães desfilando de avental como supremas divas. Tornarei ainda mais memorável: se somente Deus é TUDO, então minha mãe é o MÁXIMO. Porque nada se sobrepõe ao que ela fez por mim. Além disso, agora como pai-coruja, não existe boa ação minha capaz de equiparar ao exemplo dado por minha esposa pra minha filha. Fico estupefato fanatizando estas rainhas. E com estas duas mães pajeando minha vida torno-me o filho e marido mais feliz do mundo.
Que tal pensar em maneiras alternativas de valorizar aquelas que sempre merecerão mais?
Fale enquanto ela escuta. Mórbido ou não, coroas de flores jamais serão vistas, nem percebidas por quem foi honrado com elas. Não procrastine aquilo que pode aliviar seu peso de consciência por “nunca ter falado a ela”. Diga enquanto pode ser ouvido. Sua mãe merece escutar um pouco daquilo que lhe disse tanto. Não deixe pro ano que vem, é tempo demais pra brincar com o futuro.
Agradeça mais do que presenteie. Comprar um presente caro depende do tamanho do bolso, dizer um sincero “Muito Obrigado!” quebra o orgulho próprio em mil pedaços. E é isso que elas sonham ouvir. Nunca vi mãe no mundo mais interessada no embrulho do que no abraço. O reconhecimento puro é muito mais precioso do que a ostentação sofisticada. Afinal, quem deu banho na gente não vai exigir um banho de loja (só se for segunda opção!)…
Perdoe – e ponto final. Não existe pessoa na Via Láctea que não mereça, no mínimo, um alento de perdão. Isso não significa viver juntos novamente ou esquecer tudo de repente, ou até mesmo fingir que nunca aconteceu. Se você faz parte desta minoria cuja maternidade nunca foi lá seu grande exemplo, pelo menos liberte-se da raiva e alce voo nas asas da misericórdia. Seja nobre o bastante pra reconhecer os nove meses que lhe suportaram e deixe a justiça nas mãos de Quem é infalível: Deus, não você!
Fique atento em dar atenção. Eu sei que “ninguém faz por mal ser desatento com quem a gente ama”. E por isso mesmo é preciso ligar o despertador da alma acionando a consciência pra tirar o piloto do automático! Mãe, se a gente não “força lembrar” a gente esquece – especialmente depois do Dia das Mães. Porque é um amor tão estável e acolhedor que, injustamente, só nos lembramos quando estamos no fundo do poço ou na poça de lágrimas do “tarde demais”. Pra quê ser assim? Force-se a inventar momentos ímpares, leve-a pra passear, viaje pra curtir, minimize suas manias e maximize sua companhia. Você verá que nesta amizade existe um amor ainda maior.
Ligue mais vezes – é simples mesmo! Por incrível que pareça, a coisa mais fácil de fazer é a que menos fazemos, né? Tenho me policiado pra usar o telefone ligando pra ela mais do que tenho ligado pra pedir pizza. Tem filho que fica dizendo “vou ligar!” e só liga se for pra pedir dinheiro ou reclamar da nora dela. Pára com isso! Um telefonemazinho faz uma incrível diferença! Aproveite enquanto dá – enquanto ela ainda sabe apertar o botão certo pra lhe atender. Tudo passa, não se esqueça…
Lembrar ressuscita. Infelizmente, do lado de cá do Céu, não podemos trazer de volta aqueles cuja morte estraçalhou um coração de saudade. No entanto, eu acredito que relembrar as coisas boas reascende dentro da gente o mais importante de todos os sentimentos depois do amor: a esperança. Creia que um dia tudo vai mudar – e se re-criar graças a Deus! O sono da morte é apenas uma momentânea pausa entre dois movimentos da mesma sinfonia. E este segundo trecho, que breve virá, será eternamente lindo, perfeito e familiar.
Finalmente, olhando a minha Suprema Diva, sou levado pra longe com dois sentimentos: o do crédito e do débito. Serei eternamente devedor vendo o tempo implacável passar sobre aquela que um dia me pariu pra surgir na linha do tempo. Minha rainha-mãe permanece assustadoramente nobre, a despeito dos traços visíveis que só a experiência pode coroar. Eu daria tudo pra tê-la jovem de outrora com meus olhos adultos de agora. Por isso devo. Porque eu me fortalecia à medida que ela se enfraquecia. Se hoje sou alguém é porque ela se renunciou como ninguém. E agora, ao vê-la por debaixo de meus ombros, sinto um aperto mudo da garganta ao coração percebendo o quanto ela deu de si pensando unicamente em mim. Ah, se pudesse eu voltaria lá atrás… Desceria no escorregador novamente aproveitando melhor seus braços lá embaixo, pularia em sua cama imortalizando na memória a delícia de cada gargalhada, e curtiria os singelos passeios em que me sentia seguro olhando de baixo pra cima suas mãos me segurando. Mundo ilógico, não? Quando valorizamos os amores complexos da vida por entre nossos dedos, eles se esvaem restando-nos compensar em pouco tempo o muito de gratidão.
E o crédito? É minha única carta-na-manga – mais pra uma rosa dentro do blaizer junto ao peito: fazer deste Dia das Mães meu momento de todas as eras. Pra dizer junto a seu ouvido, ou sentir junto à sua lembrança, o quanto a amo de maneira única e inexplicável. Pois, pra falar a verdade, mãe a gente nunca vai entender em sua plenitude – apenas aceitar este presente do Céu e, no máximo, expressar:
Obrigado, mãe, você me fez existir!

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