Recebendo Sem Merecer
Assim também vocês, quando tiverem feito tudo o que lhes for ordenado, devem dizer: “Somos servos inúteis; apenas cumprimos o nosso dever”. Lucas 17:10
Eu sempre o observava transitando vagarosamente pelo campus em sua cadeira de rodas. Um chapéu protegia a cabeça e as orelhas. Os pés ficavam bem agasalhados e as mãos bem aquecidas com luvas. Ele mesmo se empurrava no inverno rigoroso de Michigan, Estados Unidos, em direção à sala de aula.
Há vários anos, a esclerose múltipla acometeu Dave. A princípio, ele sentiu os efeitos da doença nos pés, depois nos tornozelos e mais tarde nas pernas. Na ocasião em que frequentou minhas aulas, suas mãos estavam começando a endurecer. Escrevia tentando controlar os fortes espasmos nas mãos e realizava as provas datilografando com dificuldade numa máquina de escrever sobre a cadeira de rodas.
– Como vai, Dave? – eu costumava perguntar àquela figura muito bem agasalhada que se esforçava para se movimentar pelo corredor.
– O Senhor é bom! – ele sempre respondia com um sorriso.
Certo dia, ele me entregou uma citação de uma de suas autoras prediletas, Ellen White: “Àquele que se contenta em receber sem merecer, que sente que nunca poderá recompensar tal amor, que põe de lado toda dúvida e descrença e achega-se como uma criancinha aos pés de Jesus, todos os tesouros do amor infinito são um presente eterno e gratuito” (Signs of the Times, 28 de fevereiro de 1906).
– Sou eu – Dave acrescentou. – Não tenho nada para oferecer a Deus. Olhe para mim! Não mereço nada. Mas me contento em receber sem merecer. Não é maravilhoso?
Durante os dois anos em que Dave frequentou o campus, nunca o ouvi reclamar. A esclerose múltipla arruinou seu corpo e destruiu seu casamento, mas ele jamais lamentou: “Por que eu?” Sempre repetia: “O Senhor é bom!”
O Senhor é bom. Se pudéssemos enxergar-nos como realmente somos, perceberíamos que não temos nada para oferecer a Jesus. Isso vale tanto para aqueles que já se tornaram cristãos quanto para aqueles que ainda não se converteram. Todos os nossos atos de justiça são como trapos de imundícia diante da Sua santidade (Is 64:6); nossas obras e o desempenho de nosso dever não são grande coisa e, certamente, não são suficientes para recebermos a aprovação de Deus.
Mas a graça permite que recebamos aquilo que não merecemos – e não aquilo que deveríamos receber. Àquele que se contenta com a graça, àquele que não busca a exaltação própria, o céu abre as comportas do reservatório de bênçãos divinas.
Contento-me em receber sem merecer?
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