A pobreza de espírito, infelizmente vem se revelando uma tendência na religião e nas pessoas religiosas. A religião deveria aumentar nossa capacidade de aproveitar a vida e de fazer com que experimentássemos a alegria e o mistério. Mas, curiosamente costuma reduzí-la. Deus passa a ser codificado, cerceado, reprimido e confinado as páginas de um livro com capa de couro. Acostumamo-nos a encarar a Bíblia como um manual de instruções, um manual de sobrevivência e não mais uma história de amor.
A religião tem se tornado manipuladora.
Vejamos a questão do Sábado. No princípio, o Sábado era essencialmente um memorial da criação.(Gen. 1:31; 2:2-3)
O sétimo dia celebra a conclusão de toda a obra da criação e pelo Senhor é considerado como santo. Dia sagrado, reservado para Deus. Um período de tempo que deveria ser reservado e consagrado a Ele. Um reconhecimento solene dos direitos supremos de Deus. Um dia que significava louvor, adoração e ação de graças por toda a bondade de Deus. A questão de descansar do trabalho, era puramente secundária.
Havia essa “trégua” em relação as preocupações com dinheiro, prazer e conforto. Mas ela se traduzia em um desenvolvimento de uma perspectiva mais apropriada a respeito de Deus. No Sábado. os judeus refletiam sobre o que havia acontecido na semana anterior, apenas para num contexto mais amplo poderem dizer: “Tu és o verdadeiro Governante…eu, apenas um mordomo”.
Era um dia de sinceridade. Contemplação. Rigorosa e cuidadosa. Dia de avaliar a própria vida, de analisar seu próprio eu e seus rumos. Dia de fortalecer as bases do relacionamento com Deus. Dia de fazer a seguinte oração: ” Nosso coração se agita a semana inteira, mas hoje descansa de novo em ti”.
Mas, o Sábado, também era um memorial da aliança. (Ex 31:16-17).
Todo Sábado era uma renovação da aliança entre Deus e Seu povo. Descansar do trabalho, não era o objetivo principal na observância do Sábado. Era um complemento a adoração. Isaías se refere ao Sábado, como um dia “deleitoso”. O jejum e o pranto eram proibidos. Se usavam roupas brancas e festivas, e a observância deste dia deveria ser acompanhadas de músicas alegres.
Além, do que, a festa não se restringia ao templo. Era a grande festa do lar judaico. Todos os membros da família deveriam estar presentes. No pôr do sol de sexta feira, a mãe da família acendia as velas de modo cerimonial. Em seguida, o pai, depois de dar graças diante de um cálice de vinho, colocava a mão sobre a cabeça de cada filho e abençoava a todos de maneira solene, com uma oração pessoal. E esses gestos, que poderiam ser chamados de “paralitúrgicos”, não serviam apenas para consagrar o Sábado, mas também para santificar o lar judeu.
Mas, infelizmente, com o tempo, esse significado foi tolhido. O foco se perdera. Os fariseus, que conduziam a religião como uma espécie de escudo de autojustificação e um tipo de espada de julgamento, instituíram as exigências frias de um perfeccionismo baseado em regras, porque assim ganhavam STATUS e controle, ao mesmo tempo que garantiam aos fiéis a certeza de estarem marchando firmes pela estrada da salvação.
Esses fariseus, falsificaram a imagem de Deus, transformando-O em um guarda livros eterno e limitado, cujo favor podia ser alcançado somente por meio da observância escrupulosa de leis e regulamentos. E assim, transformaram a religião em instrumento de intimidação e escravização, em vez de ser um instrumento de libertação e fortalecimento.
Assim, o Sábado transformou-se num dia de legalismo. Os meios se tornaram os fins. Um pensador disse que é justamente nisso que reside a genialidade da religião legalista: transformar as questões principais em secundárias e vice-versa. E então surgiu uma miscelânea de proibições e vetos que transformaram o Sábado que deveria ser “deleitoso” em um fardo.
Existe em Connecticut, nos EUA , um código, chamado justamente de Código de Connecticut onde está escrito o seguinte: “No dia de sábado, ninguém deve correr, andar pelo jardim ou por qualquer outro lugar, exceto ao se dirigir ou voltar da reunião, e com reverência. Ninguém deve viajar, cozinhar, arrumar camas, varrer a casa, cortar o cabelo ou fazer a barba no sábado. Se algum marido beijar sua esposa, ou ela, a seu mardio, no Dia do Senhor, a pessoa responsável pelo erro deve ser punida de acordo com o entendimento da corte dos magistrados”.
Não são prostitutas e cobradores de impostos as pessoas que encontram maior dificuldade em searrepender; são os religiosos que julgam não ter arrependimento, tranquilos porque não quebraram nenhuma lei no sábado.
Jesus não morreu por obra de assaltantes, estupradores ou assassinos. Ele foi morto por pessoas religiosas. Profundamente religiosas. Os membros mais respeitados da sociedade. Aqueles que preferiram lavar as mãos.
O poder dos fariseus surge do fardo que colocam sobre as costas dos judeus sinceros; sua satisfação consiste na manipulação básica do medo que as pessoas nutrem de desagradar a Deus. O cartaz do lado de fora de uma igreja, dizendo que “homossexuais não são bem vindos” é tão ofensivo e degradante quanto o que um brechó do sul dos EUA ostentava na vitrine nos anos 40: “Proibida a entrada de cães e pretos!”
Quantas vidas foram arruinadas em nome da religiosidade tacanha e intolerante!
Cegado pela ambição, o fariseu não consegue perceber sua sombra, e por isso a projeta nos outros. Este é seu dom. Sua assinatura. Sua reação mais previsível.
Isso é ESPIRITUALIDADE TERRORISTA!!!
O fariseu que vive em mim, nunca se sobressai tanto quanto nos momentos em que assumo uma posição de superioridade moral em relação aos racistas, fanáticos e homofóbicos. Quando meu pastor, passa um sermão nos incrédulos, liberais, adeptos da Nova Era e aqueles “coitados” que estão fora do aprisco, eu balanço minha cabeça concordando. Isto porque, nenhuma palavra seria ácida o suficiente para condenar, com o devido vigor e rigor, os filmes de Hollywood, os comerciais de televisão, as roupas provocativas, os jogos de video-game e o rock’n roll. E enquanto isso, minha bibliotaca está repleta de literatura teológica, comentários bíblicos, e Bílbias de aplicação. Vou em todos os cultos, oro todos os dias. Apoio financeiramente obras da igreja. Devolvo fielmente meu dízimo. Sou dedicado a Deus e a igreja. (Mat. 23: 23-24, 27-28)
Quanta tristeza, terei que suportar, ainda?
Quanta tristeza, terei que causar, ainda?
Quantas lágrimas levarei ao coração de meu Pai?
Publicado originalmente em Plena Verdade
Um comentário:
Meu marido e eu já fomos vítima disso!!! E pasmem,pelos fariseus de nossa própria igreja(adventista).Até hoje sofremos reflexos disso,pois meu esposo está afastado!
Deus tenha misericórdia de nós!!!
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