Desde que me tornei vegetariana, comecei a fazer a transformação na minha geladeira e na minha dispensa. Troquei artigos com carne por substitutos de origem vegetal, açúcar branco pelo mascavo ou mel, cereais brancos por integrais e inseri muitas frutas e vegetais no meu cardápio.
De dois em dois meses me deliciava fazendo compras na zona cerealista, região central de São Paulo onde há dezenas de lojas com todos os artigos naturais que você possa imaginar. Sentia-me no shopping center do mundo natureba. Para mim era muito fácil recomendar alimentos ou receitas no Portal Tudo para Vegetarianos, afinal eu tinha todos os ingredientes a mão.
Mas, e quando você vive num lugar onde é praticamente impossível achar esses artigos? Pois é, hoje eu realmente sei o que é isso, e sei exatamente o que muitos leitores ao redor do mundo devem sentir.
Vivendo na Venezuela como missionária pude descobrir o desafio de se alimentar de uma forma saudável e que agrade a Deus. Como um país socialista, muitos produtos não chegam até as prateleiras. As indústrias são poucas e as importações também. Não há lojas de produtos naturais, muito menos vendendo à granel. A castanha do pará não chega aqui, o leite de soja em pó sem açúcar também não existe. Polvilho e farinha de mandioca só no Brasil!
Senti muita falta de artigos como castanhas, cereais integrais, frutas secas, pão integral (não é costume comer pão por aqui, quase todas as comidas são a base de milho), alguns grãos, leite de soja, açúcar mascavo (aqui só vendem a versão rapadura), massas integrais e frutas, isso mesmo, frutas frescas e apetitosas. Por aqui é quase impossível achar caqui, kiwi, açaí, acerola, pêssego e muitas outras frutas.
O cardápio na escola é bem restrito, tanto de opções como de quantidade. Devido a rotina cheia de atividades, é difícil fazer a própria comida ou comprar outros artigos na cidade. Os supermercados são poucos e há meses que faltam itens nas prateleiras. Além disso, temos a dificuldade de locomoção do sítio até a cidade. O que fazer nesses casos? Essa dúvida permeou meus pensamentos por diversas vezes nesses meses.
Para termos um café da manhã mais consistente encontramos uma granola e um leite de soja que é vendido em lata, para crianças recém-nascidas que não podem tolerar lactose. Com certeza essa lata contém vários conservantes e aditivos nada saudáveis, mas essa é a única opção que encontramos para ter um leite vegetal.
A terra aqui é muito pedregosa e difícil de trabalhar. A área plantada consiste de folhas, feijões, banana da terra e milho. A maioria das pessoas não gostam de vegetais e a quantidade de salada é pequena. A solução foi colher várias folhas verdes na horta para incrementarmos o almoço.
Depois de um dia de trabalho duro, e emagrecendo quase 3 kilos por mês, resolvemos fazer a terceira refeição, mas com alimentos leves. A janta é por nossa conta, ou seja, cada família ou dormitório deve se preocupar com a sua. As opções são restritas, às vezes temos alguma fruta como melão, banana, abacate ou laranja. Como só temos pão 1 vez por semana, fazemosarepas (prato típico da Venezuela e Colômbia), que são como pequenas panquecas gorduchas feitas de farinha de milho e aveia. Essa mistura geralmente é de cereais refinados e industrializados.
A água também é um desafio. O tanque construído perto da nascente enche de barro depois de uma chuva forte, deixando a água para consumo com cor de chocolate. Como tivemos fortes chuvas durante os últimos 3 meses, tomar uma água cristalina é um verdadeiro regalo!
Com todos esses desafios aprendi a entender as pessoas que lutam por viver uma vida mais saudável, com poucos recursos a mão. Aprendi a adaptar tudo da melhor forma para que tenhamos as vitaminas necessárias para a saúde. Com certeza não será a forma ideal, mas será sempre o melhor possível na situação em que vivemos.
Missionários precisam aprender a viver na escassez de alimentos, água ou recursos. Quando não se tem variedades é preciso improvisar sempre pensando em ter forças físicas, mentais e espirituais para continuar a jornada dessa vida. Deus abençoará esforços de uma pessoa sincera com os recursos disponíveis, tenha certeza disso!
Por Juliana C. Oliveira – Missionários em terras distantes
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