Correu sem maiores transtornos o primeiro dia de Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em Salvador (BA). Na Universidade Federal da Bahia (UFBA), que disponibilizou dois pavilhões de aulas para a realização dos testes, não houve sequer um estudante atrasado. A pontualidade surpreendeu, já que em 2012 muitos estudantes fizeram confusão com o horário de Brasília, já que o Estado não participa do horário de verão.
Railane dos Santos Campos, 19 anos, faz parte de um grupo especial de candidatos e chegou cedo ao local de exame, embora só comece mesmo a prova após as 18h. Adventista do Sétimo Dia, ela e outros estudantes da mesma religião ficarão confinados até o pôr-do-sol em uma sala para, então, iniciarem a avaliação. Estudando para ser técnica química, ela quer em breve cursar Química Industrial na UFBA, e diz que as condições diferenciadas não a farão desistir do sonho.
Fazendo o Enem pela segunda vez, ela deu pausa de um ano para prestar o novo exame. "No primeiro ano fiquei muito cansada com o confinamento e acabei desanimando. Mas agora que avancei mais no meu curso e decidi minha profissão vou em frente", explicou. Durante a tarde, ela e os outros candidatos adventistas fazem orações, exercícios espirituais e estudos bíblicos. "O sábado é o nosso dia de contato com Deus. Não nos dedicamos a nada para nós mesmos", completa.
Carlos Batista, 30 anos, foi um dos primeiros a chegar. Técnico em eletrônica, ele havia deixado os estudos e agora conclui o ensino médio motivado pelo irmão, Iuri, 24 anos, que acaba de entrar na faculdade de Direito e também prestará o exame. Carlos quer ser engenheiro eletrônico. O irmão, carpinteiro, é beneficiário do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e conta com o Enem para conseguir uma bolsa parcial ou total por meio do Programa Universidade para Todos (Pruni). "Eu também tinha parado de estudar e agora sou o primeiro membro da minha família numa faculdade. Também quero isso pro meu irmão", comemora.
Caso comum entre os candidatos, o gráfico Rui Oliveira Coelho, 33 anos, está tentando voltar aos bancos escolares. A particularidade é que ele nunca parou de estudar. Tomou gosto pela leitura aos 13, com os cartuns do falecido Henfil, e hoje tem uma biblioteca doméstica com mais de três mil volumes. “Minha casa não tem estrutura para isso. Tenho livros em cima da geladeira e até do sofá. Há três anos pesquiso a história oculta da Bahia, mas agora quero referendar meu conhecimento com um diploma de história ou museologia", revela.
Ele é exemplo para a vizinha, a estudante Caroline Santos de Jesus, 17 anos, que está concluindo o ensino médio e quer ser arquiteta. Filha de um mestre de obras, cresceu observando o trabalho do pai e se encantou pela construção. "Como sou mulher, seria difícil ser pedreira ou mestre de obras como meu pai, então escolhi a arquitetura", explica. Estudante de um colégio estadual, ela não se sente preparada para um bom resultado, mas garante que a arquitetura é um projeto definido. "Meu pai me pediu para me concentrar na escolar. Se eu não entrar agora, vou fazer cursinho em 2014 e em 2015 pode ter certeza que eu estarei na UFBA", promete.
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