quinta-feira, 27 de março de 2014

Não tenho tempo

TEMPO DE REFLETIR – 27 de março de 2014
Sabe, meu filho,
Até hoje não tive tempo
Para brincar com você.
Arranjei tempo para tudo,
Menos para ver você crescer.
Nunca joguei dominó,
Dama ou batalha naval com você.
Percebo que você me rodeia,
Mas, sabe, sou muito importante,
E não tenho tempo…
Sou importante para inúmeros convites sociais,
Uma série de compromissos inadiáveis…
E largar tudo isso para
Sentar no chão com você…
Não, eu não tenho tempo!
Um dia você veio
Com o caderno da escola pro meu lado.
Não liguei, continuei lendo o jornal.
Afinal, os problemas internacionais
São mais sérios que os da minha casa.
Nunca vi seu boletim
Nem sei quem é sua professora.
Não vi nem qual foi a sua primeira palavra,
Também você entende… não tenho tempo…
De que adianta saber
As mínimas coisas de você
Se eu tenho grandes coisas a saber?
Puxa! Como você cresceu!
Você já passou da minha cintura: Está alto!
Eu não havia reparado isso.
Aliás, não reparo quase nada
Minha vida é corrida e
Quando tenho tempo,
Prefiro usá-lo lá fora.
E se uso-o aqui,
Perco-me calado diante da TV
Porque a TV é importante e me informa tudo.
Sabe, meu filho, sei que você se queixa,
Que você sente falta de uma palavra,
De uma pergunta minha,
De um corre-corre,
De um chute na sua bola.
Mas eu não tenho tempo…
Sei que você sente falta do abraço e do riso,
Do andar até a padaria
Prá comprar guaraná
De andar até o jornaleiro
Prá comprar o “Pato Donald”
Mas sabe, há quanto não ando a pé na rua?
Não tenho tempo…
Mas você entende,
Sou um homem importante,
Tenho que dar atenção à muita gente,
Dependo delas…
Filho, você não entende de comércio…
Na realidade sou um homem sem tempo!
Sei que você fica chateado,
Porque as poucas vezes que falamos,
É monólogo, sou eu falo.
E noventa por cento é bronca:
Quero silêncio, quero sossego!
E você tem a péssima mania
De vir correndo sobre a gente.
Você tem mania de pular nos braços dos outros.
Filho, não tenho tempo para abraçá-lo,
Não tenho tempo para ficar
Com papo-furado com criança.
Filho, o que você entende de computador?
O que você entende de comunicação,
De cibernética, de racionalismo?
Você sabe quem é Marcuse, Mac Luan?
Como é que eu vou parar para conversar com você?
Sabe, filho, não tenho tempo.
Mas o pior de tudo,
O pior de tudo é que…
Se você morresse agora, já nesse instante,
Eu ficaria com o peso na consciência
Porque até hoje não arrumei tempo prá brincar com você.
E na eternidade, por certo,
Deus não terá tempo de me deixar
Pelo menos vê-lo.

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