terça-feira, 15 de setembro de 2015

E se Jesus visitasse a sua igreja?


Não que eu esteja passando por uma crise de fé ou eu seja um revoltadinho virtual com a igreja, não é nada disso, mas ando envergonhado de ser cristão. Ao que parece, a igreja que se diz cristã no meu país, tem abandonado cada vez mais sua essência de estar do lado do mais fraco, ir ao socorro do que sofre, trabalhar em favor do oprimido e pregar o evangelho ao perdido.

Estamos confundindo as coisas. Nossa preocupação hoje é com ternos, vestidos, maquiagens, gravatas (muitas vezes num calor de 35ºC), perfumes, carros do ano, casas, cargos, visibilidade, congressos, arrepios, rodopios, barulho, luzes, multidões, poder e tudo mais que puder inflar nossos egos e nos causar sensações das quais jamais nos esqueceremos. Evangelho de Jesus Cristo mesmo passa longe. Amor, acolhimento, socorro ao necessitado, fé, arrependimento de pecados, humildade, honestidade, generosidade verdadeira e não interesseira, são itens completamente extintos da pregação moderna e da práxis cotidiana do “povo de Deus”.

Os invisíveis não cabem mais dentro de nossos templos. O pobre não encontra mais lugar em nossa agenda sempre abarrotada. Nossa canção já não exalta mais unicamente a Cristo e Sua obra. Pregação e meditação na Palavra de Deus? Não é suficiente. Precisamos de movimento, agito, petiscos à vontade, gente vestida de super herói nos púlpitos, precisamos nos sentir bem, dar risada, ter o ego afagado. Transformamos o momento da exposição bíblica quase num stand-up comedy e as reuniões da igreja numa espécie de encontro social de um clube qualquer.

Vários dos lugares onde a gente se reúne por aí constrangem as pessoas mais simples. Aquelas de menos recursos financeiros, que se vestem com roupas menos pomposas, que não falam, muitas das vezes, o português corretamente, não exalam os caros perfumes que a maioria exala e, quase sempre não têm muito com o que contribuir naquele momento. Na verdade, eles estão em busca de socorro, de uma palavra, um sorriso, um abraço. Percebo que várias destas pessoas quando entram pelas portas de muitos dos nossos templos não são bem recebidas, me parece que se sentem acuadas, sem jeito, não estão acostumadas a frequentar lugares tão cheios de pompa e de gente tão importante. Vejamos o que Tiago diz em sua carta no capítulo dois:
1 Meus irmãos, vocês que creem no nosso glorioso Senhor Jesus Cristo, nunca tratem as pessoas de modo diferente por causa da aparência delas. 2 Por exemplo, entra na reunião de vocês um homem com anéis de ouro e bem vestido, e entra também outro, pobre e vestindo roupas velhas. 3 Digamos que vocês tratam melhor o que está bem vestido e dizem: “Este é o melhor lugar; sente-se aqui”, mas dizem ao pobre: “Fique de pé” ou “Sente-se aí no chão, perto dos meus pés.” 4 Nesse caso vocês estão fazendo diferença entre vocês mesmos e estão se baseando em maus motivos para julgar o valor dos outros.
Dia desses conversei com uma senhorinha bem pobre da minha cidade, ela é catadora de recicláveis como faz questão de sempre afirmar. Entre um causo e outro a senhorinha me confessou que alguns domingos atrás foi humilhada e tratada com muito descaso numa determinada igreja, apenas pela simplicidade do vestido que estava usando. Resultado? Dificilmente essa senhora volta a dar as caras numa igreja. Gente pobre já tem certas dificuldades de estar em público, muitos carregam consigo complexos e traumas sociais, imaginem, então, o que pensarão sendo mal tratados por pessoas que se acham mais que os outros apenas pela roupa que vestem ou pela grana que têm? Se estivéssemos menos interessados em nossas próprias futilidades e mais interessados em aprender e aplicar o genuíno evangelho de Cristo Jesus, o nome de Deus seria menos envergonhado, os cristãos seriam mais respeitados e com certeza episódios como estes seriam bem menos recorrentes.

Jesus, este a quem chamamos de Senhor, não tinha onde reclinar a cabeça, andou a pé, de jumentinho, fez amizade com a escória, conversou com quem ninguém queria conversar, comia na casa de gente que todo mundo odiava, abraçava gente que nunca havia sido abraçada. O que Jesus falou sobre ganância, riqueza e busca pelo próprio conforto? Jesus foi o cara que chutou para fora do templo os que estavam se aproveitando da fé alheia para enriquecer. Jesus conhecia muito bem quão sedutor e perigoso é o dinheiro a ponto de dizer que mais fácil seria um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos céus. Ele sempre tomava as dores dos mais necessitados e se portava de forma áspera com os soberbos. Diante desse quadro, fico extremamente deslocado quando vejo que as preocupações primordiais de muitos evangélicos giram em torno de ar condicionado e cadeiras novas para a igreja, carro novo, último lançamento de celular, bolsas caríssimas da marca tal, vídeo games de última geração, novo modelo de tênis ou sapato, luxo e mais luxo, conforto e mais conforto, eu e mais eu e mais eu. Todas estas coisas, em certo sentido, não são más em si mesmas, apenas não estou bem certo se devem ser prioridade na vida daqueles que se dizem seguidores do Nazareno. Quais são as prioridades de um cristão num país como o nosso que grita todos os dias o grito dos desesperados que vivem na 7ª economia do mundo, mas estão no 79º lugar no IDH, atrás de países vizinhos como Chile, Argentina, Venezuela e Uruguai?

Não foi o próprio Jesus que nos ensinou sobre aquele lance de acumular tesouros no céu onde nem a traça nem a ferrugem podem consumir e onde ladrão algum pode roubar? Fico me perguntando como receberíamos Jesus se ele visitasse nossa igreja qualquer dia desses. O que Ele pensaria do culto, das orações, da comunhão dos irmãos, dos louvores, da pregação, do amor?

Pra que tanta pompa, gente? Tanto nariz em pé? Tanto egoísmo? Vai tudo ficar aqui, tudo vai ficar aqui…

Que Deus nos alcance!


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