INTRODUÇÃO
Há alguns dias um amigo me enviou os comentários feitos pelo Centro Apologético Cristão de Pesquisas (CACP) a respeito de umas poucas declarações que dei na Revista Adventista de setembro de 2012.[i]
Sem entrar no mérito da insinuação de João Flávio Martinez, de que os adventistas não são “verdadeiros cristãos”, o presente artigo se preocupará em mostrar que a leitura que o diretor do CACP faz do adventismo é equivocada e não condiz com a realidade.
Percebe-se nas considerações do referido autor que ele desconhece algumas fontes primárias básicas, necessárias para a devida compreensão do posicionamento adventista sobre o dom profético na pessoa e obra de Ellen G. White – assunto em pauta. Creio que, após compreender alguns conceitos iniciais, mesmo não aceitando o dom profético da co-fundadora do adventismo, qualquer irmão evangélico ou católico, que seja sincero, poderá ao menos corrigir sua posição equivocada de que o adventismo é uma “seita herética”.
Negar o dom profético de Ellen G. White é mais que natural para alguém que não está familiarizado com a mensagem bíblica que ela ensinou, bem como com sua literatura que exalta a Pessoa Divina de Jesus Cristo. Todavia, acusá-la de “acrescentar” algo às Escrituras, ou espalhar o mito de que o adventista faz dela uma “segunda Bíblia”, é uma questão mais séria por envolver a transgressão do 9º mandamento que diz: “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo” (Êx 20:16).
Portanto, para que esse pecado não continue prejudicando a espiritualidade de muitos, algumas informações que João Flávio Martinez provavelmente não possui, serão apresentadas nesta breve resposta.
ELIMINANDO DISTORÇÕES
A consulta a alguma fontes primárias básicas revela que, ao contrário do que Martinez afirmou, qualquer adventista que conhece a doutrina de sua denominação religiosa sabe que, mesmo crendo na inspiração de Ellen G. White, os adventistas não a colocam no mesmo grau de importância que a Bíblia.
Por exemplo, ao citar o artigo “A Visão Além do Alcance”, que saiu na mesma edição da Revista Adventista[ii], o Pr. Martinez poderia ter consultado – e considerado – as obras da própria Ellen White para saber como é a relação entre a Bíblia e seus escritos no meio adventista.
Por exemplo, em 1885 ela foi bastante taxativa sobre a preeminência das Escrituras:
“A Bíblia, e a Bíblia tão-só, deve ser nosso credo, o único laço de união [...] O homem é falível, mas a Palavra de Deus é infalível [...] Ergamos o estandarte no qual está escrito: a Bíblia, nossa regra de fé e disciplina”[iii].
Em 1889 ela comentou:
“A Palavra de Deus é suficiente para iluminar a mente mais obscurecida, e pode ser compreendida pelos que têm qualquer desejo de compreendê-la [...]”.[iv]
Já no ano de 1890 ela escreveu:
“Não devem os testemunhos da irmã White ser postos na dianteira. A Palavra de Deus é a norma infalível. Não devem os Testemunhos [escritos dela] substituir a Palavra. Devem todos os crentes manifestar grande cautela ao expor cuidadosamente estes assuntos, e caleis sempre que houverdes dito o suficiente. Provem todos a própria atitude por meio das Escrituras e fundamentem pela Palavra de Deus revelada todo ponto que vindicam ser verdade”[v].
E, em 1894, ela afirmou:
“Quanto mais examinarmos as promessas da Palavra de Deus, mais brilhantes ficam. Quanto mais as pusermos em prática mais profunda será nossa compreensão delas. Nossa atitude e crença têm por base a Bíblia. E nunca queremos que alma nenhuma faça prevalecer os Testemunhos sobre a Biblia”[vi].
Já em seus dias, algumas pessoas tinham a tendência de dar aos escritos de Ellen White uma importância exagerada, o que a fez se posicionar totalmente contra essa atitude em diversas ocasiões. Se o diretor do CACP tivesse lido pelo menos o capítulo 81 dos Testemunhos Para a Igreja, vol. 5, intitulado “Natureza e influência dos testemunhos”, teria evitado tamanho deslize em generalizar a todos os adventistas – bem como a igreja em sua representatividade oficial – como um movimento religioso que coloca os escritos de Ellen G. White no mesmo nível de importância que as Sagradas Escrituras.
No referido capítulo da obra Testemunhos Para a Igreja é possível perceber que em 1876 a Sra. White repreende a um irmão chamado “J” (sua identidade foi preservada) quanto à sua atitude de “fazer parecer que a luz que Deus tem dado mediante os Testemunhos [escritos dela] é um acréscimo à Palavra de Deus”. Ela afirmou que tal postura é apresentar a questão “sob uma falsa luz” porque, entre outras coisas, “a Palavra de Deus é suficiente para iluminar o espírito mais obscurecido [...]”[vii].
Essas poucas citações da própria Ellen G. White são suficientes para mostrar que João Flávio Martinez conhece muito pouco sobre o adventismo – ou, que ele foi bastante seletivo e tendencioso em sua abordagem.
OS ADVENTISTAS NÃO CREEM EM DIFERENTES GRAUS DE INSPIRAÇÃO
Para explicar ao seu leitor o significado específico da afirmação de que Ellen G. White é “inspirada e fonte segura de revelação divina aos adventistas”[viii], evitando assim a infundada afirmação de que “mais uma vez os adventistas arvoram a velha ladainha da inspiração dos escritos de EGW em pé de igualdade com a Bíblia”[ix], novamente Martinez poderia ter se informado sobre algumas obras primárias essenciais para a compreensão do pensamento adventista.
No livro Questões Sobre Doutrina os adventistas defendem um conceito único de inspiração, sem com isso colocar os escritos da Sra. White no mesmo patamar que as Escrituras. Por exemplo, na página 98 é esclarecido:
“Nós, adventistas do sétimo dia, cremos uniformemente que o cânon da Escritura se encerrou com o livro do Apocalipse. Sustentamos que os demais escritos e ensinos, qualquer que seja a fonte de que provenham, têm que ser julgados pela Bíblia e subordinados a ela, que é a fonte e norma da fé cristã. Aferimos os escritos de Ellen G. White pela Bíblia, mas em sentido algum medimos a Bíblia pelos ensinos dela”[x].
Como conceito único de inspiração entendemos que tanto um profeta canônico (que possui livros na Bíblia) quanto não canônico (que não possui livros na Bíblia) possui o mesmo grau de inspiração porque o Espírito Santo não inspira uns mais do que outros. Ele inspira ou não inspira.
Entre outros versos bíblicos, nos baseamos em 1 Crônicas 29:29 e 2 Samuel 12, por exemplo. No primeiro, percebemos os nomes de alguns profetas (cf. também 2Cr 8:29) que são considerados profetas mesmo não sendo canônicos: Natã e Gade. Já em 2 Samuel 12 vemos que Davi considerou Natã tão inspirado como os profetas canônicos, pois aceitou sua mensagem como vinda de Deus.
Os adventistas classificam Ellen G. White como uma profetisa não canônica, possuindo o mesmo grau de inspiração que outros profetas, porém, sem ter seus escritos igualados com os escritos dos profetas canônicos, que, ao contrário dos escritos dela, são a norma infalível de fé e de aplicação universal[xi].
Por tanto, não cremos em diferentes graus de inspiração. A pessoa é inteiramente inspirada por Deus ou pelo Diabo. Todavia, isso não significa que os adventistas dão o mesmo grau de importância à Bíblia e aos escritos de Ellen G. White. Uma coisa é ter o mesmo grau de inspiração; outra é ter a mesma importância ou função que o Livro Sagrado (ou servir de “acréscimo” a ele).
Se Martinez tivesse lido a obra Nisto Cremos saberia que, para os adventistas do sétimo dia, “os escritos de Ellen G. White não constituem um substituto para a Bíblia” e que eles “não podem ser colocados no mesmo nível”. Ele teria visto que o mesmo livro, que apresenta as 28 crenças fundamentais e oficiais dos adventistas, afirma que “as Escrituras Sagradas ocupam posição única, pois são o único padrão pelo qual os seus escritos [de Ellen White] – ou quaisquer outros – devem ser julgados e ao qual devem ser subordinados”[xii].
A leitura da obra Assuntos Contemporâneos em Orientação Profética, disponível em língua portuguesa desde 1988, também teria se demonstrado bastante instrutiva e útil para a pesquisa do diretor do Centro Apologético Cristão de Pesquisas (CACP). Na página 157 vê-se que, mesmo os adventistas crendo que a qualidade da inspiração existente em Ellen White seja a mesma que a da Bíblia[xiii], de maneira alguma colocam seus escritos no mesmo nível de autoridade doutrinária:
“Os escritos de Ellen White não cumprem uma função de regra ou norma de doutrina. A Bíblia sim. Neste sentido, Ellen White não tem autoridade doutrinária igual à da Bíblia”[xiv].
Não se sabe se Martinez não citou tais fontes por desconhecê-las ou devido à sua seletividade. Todavia, o tipo de resposta que ele dará a este artigo poderá nos auxiliar a termos pelo menos um vislumbre de suas reais intenções.
Confio que em sua resposta ele não seguirá a mesma “metodologia” de Natanael Rinaldi: desviar o foco do assunto em discussão, e tratar de outras questões relacionadas ao adventismo sem antes esgotar o tema que está em pauta.
O QUE É O “Espírito de Profecia” PARA A IGREJA ADVENTISTA
Ao comentar o uso que o editor adventista Vinícius Mendes fez da expressão “espírito de profecia” em seu artigo “A visão além do alcance”, Martinez poderia ter explicado ao seu leitor que tanto Mendes quanto a Igreja Adventista do Sétimo Dia creem que essa expressão de Apocalipse 19:10 não se refere apenas e majoritariamente aos escritos de Ellen G. White.
Cremos ser Ellen G. White a continuação do dom profético, que existiu também na igreja cristã primitiva (At 21:8, 9; 1Co 14:1[xv]; Ef 4:11) e foi prometido por Deus aos seus filhos nos últimos dias (Jl 2:23-32; At 2:16-21; 12:17; 19:10; 22:9), para que não se corrompam (Pv 29:18) inclusive pela influência dos falsos profetas (Mt 7:15-23; 24:24)[xvi].
Algumas obras seriam bastante úteis para que o pastor Batista João Flávio Martinez soubesse o que a Igreja Adventista realmente pensa sobre a expressão “espírito de profecia”, que aparece em Apocalipse 19:10.
Por exemplo, entre algumas obras já citadas neste breve artigo, o diretor do CACP poderia ter lido o livro Interpreting Scripture, onde Ranko Stefanovic afirma ser o “espírito de profecia” uma “referência ao Espírito Santo, que dá o dom profético” aos mensageiros escolhidos[xvii].
A mesma opinião o autor expressou em seu comentário sobre o livro do Apocalipse publicado pela Andrews University em 2009, onde ele cita Richard Bauckham para afirmar que nesse texto (de Ap 19:10) é mencionado “o Espírito [Santo] que fala através dos profetas”[xviii]. Obviamente, a expressão se refere a todo o dom profético dado ao longo da história, tanto aos profetas canônicos (autores bíblicos) quanto aos não canônicos (Ellen White, por exemplo), paratestemunhar sobre as Palavras de Jesus Cristo.
Insinuar que os adventistas aplicam Apocalipse 19:10 apenas aos escritos não canônicos da Sra. White é desconhecer por completo a doutrina adventista dos dons espirituais.
Outra obra abalizada que Martinez poderia ter consultado é a Andrews Study Bible, que na nota explicativa sobre o referido texto também não reduz o “espírito de profecia” às obras de Ellen White[xix].
O artigo A Marca Permanente da Verdadeira Igreja, de Hans K. LaRondelle, também teria sido de grande utilidade para a pesquisa de João Flávio Martinez. Nele LaRondelle afirma, assim como Kenneth A. Strand, ser o “testemunho de Jesus” não exclusivamente um “dom de visões para alguns crentes escolhidos no tempo do fim”[xx], mas sim toda a mensagem profético do Antigo Testamento e o testemunho apostólico do Novo Testamento.
Mais importante ainda para a compreensão do pensamento adventista sobre Apocalipse 19:10 é o conhecimento da posição da própria Ellen White a respeito do texto. Caso o Pr. Martinez tivesse ao menos consultado o Apêndice escrito por Ángel Manuel Rodríguez, intitulado “O ‘testemunho de Jesus’ nos escritos de Ellen G. White”, disponível na obraTeologia do Remanescente[xxi], saberia que a Sra. White interpretou o ‘testemunho de Jesus’ (Ap 19:10) “como uma expressão rica, repleta de significação”[xxii].
No referido apêndice o leitor pode constatar que, mesmo aplicando a expressão aos próprios escritos[xxiii], Ellen White acreditava ser o “testemunho de Jesus” o ‘testemunho dado por Jesus’ sobre Si mesmo, Seus ‘ensinamentos’, a ‘mensagem bíblica que se origina por meio do dom profético’, o ‘Antigo Testamento’, a ‘totalidade das Escrituras’, o ‘livro do Apocalipse’, o ‘dom de profecia’ e até mesmo a ‘mensagem de salvação pela fé em Cristo’.
Ela atribui à expressão de Apocalipse 19:10 outros significados, porém, esses são suficientes para se comprovar a parcialidade de João Flávio Martinez na maneira como aborda as crenças adventistas.
PRÉ-CONCEITO PARA COM AS OBRAS DE ELLEN G. WHITE
No segundo parágrafo de seu post, Martinez insinuou que eu me contradisse na entrevista dada à Revista Adventista quando recomendei ao leitor que passe tempo com a Bíblia e, ao mesmo tempo, afirmei que, além do estudo das Escrituras, leio os escritos de Ellen G. White.
Porém, essa contradição é por conta dele. Afinal, o tempo em que passo com as Escrituras é muito superior ao que passo com os escritos proféticos não canônicos da Sra. White.
É provável que, se eu houvesse dito na entrevista que dedico tempo ao estudo da Bíblia com um comentário bíblico, Martinez não tivesse me questionado. Todavia, como ele está contaminado com um sentimento antiadventismo, basta mencionar o nome Ellen White para ele manifestar seu preconceito injustificado.
Quem me conhece, assiste ao programa “Na Mira da Verdade” e está familiarizado com a teologia adventista, sabe que nossas 28 doutrinas fundamentais podem ser baseadas somente na Bíblia, mesmo que Ellen White nos esclareça certos pontos.
Deve-se destacar que eruditos e exegetas adventistas, mesmo aceitando o dom profético de Ellen G. White, nunca deixaram de lado a exegese e os princípios da hermenêutica para a compreensão do texto bíblico e elaboração de seus artigos para o meio acadêmico fora da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Isso prova mais uma vez que Martinez foi tendencioso (conscientemente ou não) em sua abordagem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste artigo demonstramos que a visão do Centro Apologético Cristão de Pesquisas (CACP), sobre o adventismo e sua teologia do dom profético, é bastante contaminada.
Certamente, a pouca familiaridade com as obras primárias existentes; o sentimento antiadventismo; a limitadíssima compreensão do conceito adventista de inspiração de profetas canônicos e não canônicos; a parcialidade com que apresenta as informações ao seu público e o desconhecimento da crença adventista na primazia das Escrituras, são alguns dos “venenos” que têm contaminado não só a visão do CACP, mas também a vida espiritual de muitos leitores que têm se familiarizado com esse tipo de comentário inverídico e tendencioso.
O amor que desenvolvi por Jesus Cristo com a leitura dos livros Caminho a Cristo e O Desejado de Todas as Nações é muito mais significativo para minha vida do que as acusações dos críticos de Ellen G. White. Por isso, não tenho dúvida de que se João Flávio Martinez (e qualquer outro crítico) ler tais obras buscando somente a Jesus, ao invés de procurarganchos onde possa pendurar suas críticas, verá que a mensagem bíblica e cristocêntrica da autora influenciarão de maneira muito mais positiva sua vida do que as críticas divulgadas no site do CACP. Basta querer experimentar.
[i] João Flávio Martinez, “Adventismo: Visão Contaminada”. Disponível em: http://www.cacp.org.br/adventismo-visao-contaminada/ Acessado em: 1 de abril de 2013.
[ii] Vinícius Mendes, “Visão além do alcance”. Revista Adventista, setembro de 2012, p. 8-12.
[iii] Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, vol. 1, p. 416.
[iv] Ibidem.
[v] ____, Evangelismo (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2007), p. 256.
[vi] Ibidem.
[vii] White, Testemunhos Para a Igreja, vol. 5 (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004), p. 663.
[viii] Mendes, “Visão além do alcance”…, p. 12.
[ix] Martinez, “Adventismo: Visão Contaminada”…, acessado em 1 de abril de 2013.
[x] Questões Sobre Doutrina: o clássico mais polêmico da história do adventismo. Ed. Anotada (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2008), p. 98.
[xi] Questões Sobre Doutrina: o clássico mais polêmico da história do adventismo (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2008), p. 98-103. Ed. Anotada por George R. Knight.
[xii] Associação Ministerial da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia (org.). Nisto Cremos: As 28 Crenças Fundamentais da Igreja Adventista do Sétimo Dia (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1997), p. 305.
[xiii] Por ser o mesmo Espírito quem inspira com o mesmo cuidado tanto profetas canônicos quanto não canônicos, e por não haver base bíblica para a existência de “graus de inspiração”.
[xiv] Associação Ministerial da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. “A verdade acerca da ‘Mentira White’” em Assuntos Contemporâneos em Orientação Profética: Antologia de Artigos e Monografias. Compilador: Roger W. Coon (São Paulo: Instituto Adventista de Ensino, 1988), p. 157.
[xv] Diz o texto, na Nova Versão Internacional: “Sigam o caminho do amor e busquem com dedicação os dons espirituais, principalmente o dom de profecia”.
[xvi] A existência de “falsos profetas” pressupõe a existência de verdadeiros. Por isso, a alegação de que o dom profético “durou até João” (Lc 16:16) é falsa e não pode ser apoiada por uma devida análise contextual. Afinal, o texto paralelo de Lucas 16:16, Mateus 11:13, esclarece que o termo “duraram”, que aparece em itálico em algumas traduções, não se encontra no original. No texto grego de Lucas 16:16 encontramos a fase “a lei e os profetas até João”. Já em Mateus 11:13 descobrimos que termo original Mateus tinha em mente: “Por que todos os profetas e a lei profetizaram até João”. Não foi à toa que os tradutores da Nova Versão Internacional, analisando o texto paralelo à Lucas 16:16 (Mateus 11:13), assim traduziram o texto de Lucas: “A Lei e os Profetas profetizaram até João. Desse tempo em diante estão sendo pregadas as boas novas do Reino de Deus, e todos tentam forçar sua entrada nele”. Desse modo, em hipótese alguma o texto está “abolindo a Lei de Moisés” (ver Lc 16:17; Mt 5:17-19) ou o “dom profético”, afirmando que “o último profeta foi João Batista”. Afinal, bem depois dele existiram outros (At 21:8, 9; 1Co 14:1; Ap 1:1-3). O mensagem de Lucas 16:16 e Mateus 11:13 é que a Lei de Moisés (cinco primeiro livros da Bíblica) e os “profetas” (restante do Antigo Testamento) cumpriram com sua função de profetizar sobre o Messias e anunciá-Lo até a vinda de João Batista, o precursor de Jeová (Ml 4:5, 6) que anunciaria ele mesmo ao Messias e Sua mensagem de perdão e arrependimento. Que a validade da Lei de Moisés ou do dom profético não é o tema discutido por Jesus, veja-se, por exemplo, Ralph Earle em Comentário Bíblico Beacon, vol. 6 (Rio de Janeiro: CPAD, 2006), p. 88. Esse teólogo evangélico conservador afirma: “A ideia (“a lei e os profetas profetizaram até João”) parece ser: Todo o Antigo Testamento – todos os profetas e [até mesmo] a lei profetizaram até João. Ou seja: as antigas Escrituras predisseram a vinda de Cristo. Mas João teve um papel especial. Ele foi o cumprimento de Malaquias 4:5 – o Elias do Novo Testamento, o precursor do Messias”.
[xvii] Ranko Stefanovic, Interpreting Scripture: Bible Questions and Answers. Gerhard Pfandl, ed. (Silver Spring, MI: Biblical Research Institute, 2010), p. 447.
[xviii] Stefanovic, Revelation of Jesus Christ: Commentary on the Book of Revelation (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 2009), p. 560.
[xix] Andrews Study Bible (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 2010), p. 1675 e 1683.
[xx] Hans K. LaRondelle, “A Marca Permanente da Verdadeira Igreja”. Revista Teológica do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia – IAENE, vol. 3, janeiro-junho de 1999, número 1, p. 6.
[xxi] Ángel Manuel Rodríguez, “O ‘testemunho de Jesus’ nos escritos de Ellen G. White” em Teologia do Remanescente: Uma Perspectiva Eclesiológica Adventista (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2012), p. 226-242.
[xxii] Rodríguez, “O ‘testemunho de Jesus’ nos escritos de Ellen G. White”…, p. 226.
[xxiii] Mesmo aplicando o “testemunho de Jesus” aos seus escritos, Ellen G. White nunca aplicou tal expressão diretamente a si mesma. Em conclusão ao seu minucioso estudo sobre uso que White fez dessa expressão em suas obras, Ángel Manuel Rodríguez afirmou: “Até onde posso garantir, Ellen G. White nunca interpretou Apocalipse 12:17 de maneira clara ou explícita como uma referência a seu ministério profético dentro do remanescente. Seu uso da expressão ‘testemunho de Jesus’ não exclui a manifestação do dom profético em sua vida e experiência, mas ela optou por não estabelecer uma conexão clara ou explícita entre os dois. Parece que isso foi algo que ela fez de maneira intencional…” (p. 238). As razões para isso apresentadas por Rodríguez são: (1) porque ela sempre atribuía à Bíblia o status de fonte suprema de informação, incluindo o próprio ministério profético; (2) evitar possíveis equívocos sobre seu papel dentro e fora da igreja, dando assim um testemunho de sua modéstia cristã.
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