terça-feira, 20 de março de 2012

Detetive Virtual (Fantástico) – Denúncia contada no vídeo Kony 2012 aconteceu há 10 anos

O vídeo mostra crianças vítimas de um chefe guerrilheiro em Uganda. Elas foram sequestradas para virarem soldados sob as ordens do chefe: Joseph Kony.
Kony 2012 é o nome do filme, criado pela ONG americana “Invisible Children”, Crianças Invisíveis. A ONG pede a prisão de Kony e pede também dinheiro para combater o abuso contra as crianças africanas.
Mas dá pra confiar que esse dinheiro será bem empregado? Nos Estados Unidos, o repórter Rodrigo Bocardi investiga essa história direitinho. O vídeo denuncia o uso de crianças como soldados pelo Exército de Resistência do Senhor, em Uganda. OLRA, como o exército é conhecido, é comandado por Joseph Kony – acusado pelo tribunal penal internacional.
No vídeo de 30 minutos, o promotor do tribunal diz: “São crimes contra a humanidade e crimes de guerra cometidos contra a população civil. Incluindo assassinato, abuso sexual, estupro, sequestros”, afirma Luis Moreno Campo.
Jason Russell, o diretor, documentarista, e líder da ONG Invisible Children, mostra o próprio filho no vídeo. E por meio de fotos conta ao garoto quem é Joseph Kony. “Ele toma as crianças dos pais, dá armas a elas para matar outras pessoas. O que você acha disso?”.
“Tristeza”, responde o menino.
Há também o depoimento de um garoto que afirma: foi sequestrado e viu o irmão ser morto pela guerrilha de Kony.
Kony 2012 virou uma marca. Pulseiras, camisetas, pôster, tudo está sendo vendido pela Invisible Children. Só que as críticas vieram com a mesma força. Defensores dos direitos humanos dizem que a campanha é oportunista.
Fomos à faculdade de direito da Universidade de Columbia. O professor Peter Rosemblum afirma que a situação mostrada no documentário existiu, de fato, mas foi há dez anos. “Eu ficaria emocionado se isso tivesse acontecido uma década atrás – quando Kony estava cometendo atrocidades. É um vídeo poderoso, uma história poderosa. Mas há um problema relacionado ao tempo”, diz o diretor do Departamento de Direitos Humanos.
No Brasil, o Detetive Virtual também conversou com um especialista em assuntos africanos. Ele confirma que a situação mostrada no vídeo não existe mais.
“Ele tem um exército muito menor, tem uma capacidade de movimentação territorial muito limitada, provavelmente estará no Congo neste momento. E o armamento, pegaram pouco o armamento dele, ele deve ter arsenais escondidos, só que uma parte é inútil, quer dizer, não recebe munição. Então ele não pode arriscar operações como ele arriscava antes”, diz Jonuel Gonçalves, professor da Universidade Candido Mendes.
Até mesmo as crianças que aparecem em um abrigo na Uganda, mostradas no vídeo, não estão mais lá. As imagens são antigas.
O repórter Rodrigo Bocardi mostra agora que também existem críticas sérias à atuação da ONG que fez o filme.
O Fantástico foi até a cidade de Glen Rock, no estado de Nova Jersey, para visitar em um prédio a Charity Navigator – navegador de caridade, a mais antiga e maior organização não governamental de fiscalização de outras Ongs. Isso em termos financeiros: arrecadação, investimento, administração de todo o dinheiro que é doado. E a Invisible Children – Crianças Invisíveis – não é bem avaliada neste quesito.
A ONG que criou a campanha Kony 2012 arrecadou US$ 13,7 milhões no último ano. Gastou quase US$ 9 milhões.
Só que a maior parte com despesas de pessoal, com viagens e com a realização de vídeos. Apenas 37% foram destinados para obras de caridade.
“Primeiro: eles não têm um conselho independente; segundo: eles não têm um comitê de auditoria para verificar as finanças; terceiro: eles não têm uma política de privacidade dos doadores”, diz Ken Berger, presidente da ONG fiscalizadora.
Nós procuramos a Invisible Children. Na porta da sede da ONG, em San Diego, um aviso: aqui não há relações públicas. Tentamos ligar. Ninguém para nos atender.
Um diretor da Invisible Children divulgou um vídeo na internet se defendendo. “Qualquer queixa sobre nossa falta de transparência, ou falta de auditoria ou ausência de integridade financeira é mentirosa”, afirmou Ben Keesey.
Ninguém duvida de que Joseph Kony é um criminoso perverso que precisa ser detido. Mas a dúvida é: será que o dinheiro que a Invisible Children arrecada e gasta fazendo vídeos vai mudar alguma coisa?
Em um vídeo, de 2006: os três diretores da ONG, com Jason Russell à frente, imitam Michael Jackson e depois viram super-heróis que usam seus poderes para transformar universitários em militantes em defesa das crianças da Uganda. A causa pode ser boa, mas você daria dinheiro para fazer um vídeo como esse?
Fica o recado: antes de ajudar uma ONG na internet, informe-se bem sobre como seu dinheiro será empregado.
Veja aqui a reportagem do Fantástico.
Maiores informações veja aqui.
Fonte: Fantástico

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