quinta-feira, 13 de junho de 2013

“Teoria do sexto rei contra-ataca”

Papa_Francisco_con_periodistas_2013-03-16-2Em 12 de fevereiro (2013), postei no blog o terceiro post sobre os “sete reis” de Apocalipse 17, para auxiliar o leitor a se familiarizar um pouquinho com a interpretação historicista seguida pelos adventistas do sétimo dia no estudo do Apocalipse.
No post recomendei a leitura da resposta de José Carlos Ramos sobre esse tema, disponibilizada na Revista Adventista de junho de 2005, página 10, na seção intitulada “Consultoria Doutrinária”.
Todavia, sendo que com o anúncio do novo papa – o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio (Papa Francisco) – as especulações alarmistas e sem fundamentação bíblica (ou histórica) se acentuam nas “mentes irrequietas”, decidi disponibilizar, na íntegra, a resposta do então diretor de pós-graduação do curso de teologia no Centro Universitário Adventista (Unasp) em Engenheiro Coelho, SP.
Vale à pena conferir essa breve resposta, para que não se deixe levar por especulações que em nada contribuirão para o crescimento espiritual, e muito menos para o avanço da obra de Deus.
Antes, relembro que há uma terceira interpretação no meio adventista, que não rejeita o método historicista. Essa metodologia de interpretação (historicismo) é caracterizada por compreender as profecias bíblicas de uma perspectiva histórica, considerando o passado, presente e futuro. Tal sugestão interpretativa foi apresentada por Ekkehardt Mueller, diretor associado do Biblical Research Institute da Associação Geral da IASD em Silver Spring, Maryland, EUA.
Seu estudo exegético de Apocalipse 17 foi publicado em língua portuguesa na revista teológica “Parousia”, e pode ser lido clicando aqui.
As duas interpretações destacadas por José Carlos Ramos, e a sugestão interpretativa de Ekkehardt Mueller são embasadas e livres de qualquer interpretação fantasiosa que aparece em artigos e em livros de “profetas de plantão”. Há um desses “profetas” por aí dizendo que o Papa Francisco é o “último papa” a assumir o trono do Vaticano antes de Jesus voltar. Infelizmente, ele também irá se decepcionar com o passar do tempo, do mesmo modo que muitos outros. Desejo sinceramente que Deus conforte tais irmãos em tal momento de angústia.
Todavia, reconheço que Jesus pode voltar a qualquer instante (Mt 24:42, 44), porém, especular sobre Sua volta tendo como “base” a ascensão de um “papa”, a meu ver, é muito perigoso, além defictícia. Essa teoria contradiz de maneira “mascarada” o texto de Mateus 24:36, que afirma não ser possível saber o dia e a hora da volta do Salvador (leia também Atos 1:7).
A teoria de que Francisco é o “último papa antes de Cristo voltar” leva a uma agitação prejudicial e que desvia a atenção do verdadeiro centro das profecias apocalípticas, Jesus Cristo, e da nossa real missão: pregar o “evangelho eterno” (Ap 14:6), contextualizado nas Três Mensagens de Apocalipse 14:6-12.
Por isso, sugiro que leia com atenção o artigo a seguir, da autoria de José Carlos Ramos, e que atente para seu conselho final nos últimos dois parágrafos. Além disso, recomendo que assista a palestra de Alberto Timm, intitulada “Papado: Declínio ou Ascenção?”, ministrada no programa “Conection”, na Washington Brazilian SDA Church em 9 de março de 2013.
Ela pode ser assistida ao clicar aqui. Nessa palestra, você verá (entre outras coisas) que a profecia enfatiza o papado como um todo – ao invés de “papas isolados” – como o poder mencionado tanto em Daniel 7:25, 8:9-12 e Apocalipse 13.
Em breve postarei uma resposta a algumas alegações de um sensacionalista. Em uma delas ele afirmou que minha explicação sobre Apocalipse 17, dada no programa “Na Mira da Verdade”, não possui embasamento histórico. Porém, ao analisar os pressupostos dele, poderemos desmentir vários sensacionalistas de uma só vez – o que será bastante útil para os sinceros estudantes das profecias.
A seguir, a resposta de José Carlos Ramos. Ótima leitura!
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“Teoria do sexto rei contra-ataca”
Com a morte do papa, reascendeu aqui em nossa congregação a teoria dos sete reis. Poderia comentar alguma coisa sobre essa teoria? Qual, por exemplo, seria sua principal fragilidade? E. K.
A posição da IASD com respeito a Apocalipse 17:9 e 10 continua sendo a mesma de antes da morte de João Paulo II. Respeitando o sistema de interpretação profética que ela assume, o historicismo, interpretamos de duas maneiras os “sete reis” relacionados nesse texto:
Primeira: Eles representam sete formas de governo romano desde a fundação de Roma, as quais são: realeza, consulado, decenvirato, ditadura, triunvirato, império e papado.
Quando o Apocalipse foi escrito – as cinco primeiras formas haviam passado – a História registrava o domínio da sexta, e o domínio da sétima (o papado) ainda viria; ou
Segunda: Os “sete reis” representam sete reinos ou impérios que perseguiram e maltrataram o povo de Deus no transcurso da História, começando com o Egito, e prosseguindo com a Assíria, Babilônia, Medo-Pérsia, Grécia, Roma Imperial e Roma Papal. Da mesma forma, no tempo do apóstolo João, os cinco primeiros desses reinos, ou poderes, haviam passado, o sexto dominava e o sétimo ainda viria. O verso 11 também fala do “oitavo rei”, que “procede dos sete”. O único dos sete, que de fato retornará, é o papado, que, quando plenamente curado de sua ferida mortal, exercerá a supremacia em todo o mundo (Apoc. 13:3).
Contrariando a posição historicista da Igreja, ultimamente tem sido ventilada uma forma de interpretação distinta, conhecida como teoria do sexto rei, e que lamentavelmente tem sido apresentada como verdade em alguns círculos adventistas: “Os sete reis de Apocalipse 17:9 e 10 são os sete papas que assumem a direção do Romanismo desde 1929.”
Por que desde 1929? Porque nesse ano o Cardeal Gasparri e Benito Mussolini, premier italiano entre 1922 e 1943, assinaram o Tratado de Latrão estabelecendo o Estado do Vaticano e assegurando à Santa Sé independência absoluta e soberania de caráter civil e político. Supõe-se que aí tenha ocorrido a cura da ferida mortal infligida à besta (Apoc.13:3, primeira parte). Mas, se realmente a cura ocorreu em 1929, porque o papado até hoje não logrou um domínio mundial?
Pois a profecia afirma que, uma vez efetivada a cura, “toda a terra se maravilhou, seguindo a besta” (v. 3, u.p.). Segundo a teoria, o sexto rei é João Paulo II, e seu sucessor, Joseph Ratzinger, o sétimo. O “oitavo” virá em seguida, como o último a exercer o primado; isto é, ele avançará até a volta de Jesus. Mas, segundo a profecia, o oitavo e último será um dos sete anteriores. Pergunto: Se os seis primeiros papas já morreram (e, segundo a própria teoria, não será o “sétimo” que retornará), como então um deles será o “oitavo”? Como se cumprirá a profecia que afirma que o “oitavo procede dos sete”?
A “fragilidade principal” dessa teoria é precisamente seu erro fundamental: o ter ela se desviado do pensamento profético interpretativo da Igreja, o historicismo, e descambado para um dispensacionalismo, ou futurismo disfarçado (o dispensacionalismo interpreta as profecias jogando a maior parte de seu cumprimento para o futuro). Toda vez que isso ocorrer, estaremos subestimando a luz que Deus, desde o princípio, fez incidir sobre nós, e o resultado não será bom. Jamais deveríamos esquecer que o historicismo transparece na forma como nosso Salvador tratou as profecias de Daniel (ver o discurso escatológico registrado em Mateus 24, Marcos 13 e Lucas 21), e na forma com que o apóstolo Paulo se referiu à vinda do anticristo em II Tessalonicenses 2. E, claro, Ellen G. White, como mensageira do Senhor, não poderia adotar outro sistema. É suficiente uma olhadela no livro O Grande Conflito para se constatar que ela, de fato, foi historicista em sua abordagem profética.
Faz algum tempo, estive em Curitiba dialogando com um dos defensores da teoria; alguém que, anos antes, havia lançado um livro a respeito desse assunto. Nessa obra, ele afirmara que João Paulo II iria renunciar e seria sucedido por um papa que governaria por pouco tempo (pois seria um desastre para a Igreja) e, então, o mesmo João Paulo II retornaria ao poder como o “oitavo”, cumprindo assim o detalhe profético da procedência dentre os sete.
Na oportunidade, afirmou-me o autor estar consciente de que, se o papa viesse a morrer, sua teoria se mostraria um equívoco. E não deu outra coisa. Agora existem aqueles que, não reconhecendo o fracasso da teoria, querem coser um tampão na “brecha”, tentando, face ao falecimento do papa, adaptá-la ao novo contexto; andam afirmando que o recém-falecido papa será clonado, ou que o diabo irá contrafazer uma ressurreição dele, ou, ainda, que esse papa, uma vez canonizado, “aparecerá” (naturalmente por imitação maligna) para, novamente, assumir o trono do Vaticano! É assim que “um abismo chama outro abismo” (Sal.42:7). Mas, como geralmente acontece em artimanhas do tipo, é muito provável que o remendo aqui, como diz o ditado, venha a ser “pior que o soneto”. Essas e outras fantasias afins são ótimas para Hollywood (e seus filmes de ficção), mas não para o povo de Deus.
Por que esses “adventistas”, amantes do ineditismo e do sensacionalismo, não vão pregar aos perdidos que anseiam pelo Evangelho puro, límpido, fundamentado num insofismável “assim diz o Senhor”, e não rompem, de vez, com ideias especulativas que só geram confusão? Quando vão acordar para o fato de que devem construir e não demolir?
Comissionado pelo grande Mestre, o povo de Deus tem uma missão a cumprir em todo o mundo. Não trabalhamos com meras conjecturas. Há uma verdade clara e objetiva para ser proclamada ao mundo, uma verdade incorporada na tríplice mensagem angélica de Apocalipse 14.
Não é hora de nos aventurarmos com fantasias inconsequentes, de gastarmos o precioso tempo que nos resta com produtos secundários, oriundos de mentes irrequietas.
José Carlos Ramos, diretor de pós-graduação do Salt, campus Engenheiro Coelho, SP.

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